quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Onde está a criança no atendimento infantil?


Carolina Prado Koneski

Imaginem, reflitam sobre os motivos que levam a criança e sua família a procurarem uma psicoterapia. Pais e criança realizam pedidos, pedido este realizado pela criança, que normalmente não corresponde ao pedido familiar.

A criança vem à terapia porque se encontra impedida de fluir e cristalizada em alguns padrões que não estão sendo experimentados como satisfatórios. O processo é interrompido, é como se o mundo não lhe oferecesse condições para que esse contato flua, e o crescimento aconteça. Assim, a criança muitas vezes denuncia uma dinâmica familiar falida, denuncia um sintoma. Podemos refletir, no entanto, que esta criança, na estrutura familiar, vem sendo a figura mais saudável, pois o sintoma neste momento é o melhor representante de um ajustamento criativo. São as sucessivas tentativas da criança em desenvolver uma melhor forma de lidar com a impossibilidade de criar.

Diante dessa dinâmica, qual deve ser a postura do terapeuta? No contato inicial, a criança insere o terapeuta no convite do brincar, basta estar presente, compartilhar esse convite. Mas é no encontro terapeuta e criança, na relação de campo que se configura naquele momento, que há possibilidade de a criança reconhecer suas necessidades emergentes e experimentar satisfazê-las. O brincar permite que a criança experimente, faça contato com o mundo do qual ela faz parte, buscando possibilidades de atuação, refazendo o caminho. O brincar é um dos recursos mais importantes, e é fundamental na prática clínica com crianças, pois através dele o terapeuta ajuda a criança a se apossar do que é dela, ficando atento para a apreensão do sentido da brincadeira para aquela criança, ressignificando vivências. Junto com a criança e em sintonia com ela o terapeuta fornece condições, durante o brincar, para que ela desenvolva o auto-suporte ampliando seu fluxo de awareness. Na brincadeira, a criança exercita o seu próprio ajustamento criativo, reconfigura seu campo através do contato e reconhece uma nova forma de aproximação.

O brincar é como se a criança novamente vivenciasse a cena. Todo brincar é um ato, uma ação, um acontecimento por si. Sempre atual em obra e processo.

A CRIANÇA do terapeuta é presentificada e bastante solicitada no atendimento à criança. Vale perguntar, revisitar e dialogar com sua criança. Onde você a deixou? Guardada junto com suas bonecas, ou em seus diários?

Acompanhe e participe dessa discussão no próximo Gestalt em Ato, quarta, dia 3 de novembro, 19hs!


quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Gestalt-oncologia: a construção de um caminho


Em 6 de outubro de 2010 aconteceu mais uma edição do Gestalt em Ato com o trabalho Gestalt-0ncologia: um lugar além da doença, apresentado pelas Psicólogas Maria Balbina Gappmayer e Ana Carolina Seara e reuniu psicoterapeutas com experiência em áreas distintas.


O encontro iniciou com uma exposição e discussão sobre o Projeto Gestalt-oncologia: um lugar além da doença, desenvolvido desde 2008 pelos profissionais do Instituto Müller-Granzotto. A partir das discussões e compartilhamento de experiências realizado entre os participantes, o encontro propiciou uma reflexão sobre as expectativas do clínico e as demandas dos consulentes que buscam este trabalho. Uma reflexão sobre os ajustamentos aflitivos e as possibilidades de trabalho na clínica gestáltica vinculada a tais demandas gerou ricas contribuições para que fosse possível ampliar o olhar para as formas de intervenção, já que o clínico gestáltico trabalha a partir de uma ética e com a noção de campo.


Agradecemos a presença de todos os envolvidos nesse trabalho e no desenvolvimento das sementes para novas possibilidades. Dando seqüência ao projeto em novembro teremos: “Onde está a criança no atendimento infantil?”

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Um lugar além da doença: Gestalt-oncologia

Maria Balbina Gappmayer
Ana Carolina Seara

As demandas que chegam ao consultório são as mais variadas possíveis. Mas, sem dúvida alguma, as mais comuns dizem respeito a dificuldades nos relacionamentos, sejam amorosos, familiares, profissionais ou outros. E, o psicoterapeuta, normalmente, só é procurado quando sentimentos como angústia e/ou ansiedade ficam insuportáveis. Mas como proceder quando, além dessas demandas, nos deparamos com situações de doenças graves, como um diagnóstico de câncer? É possível oferecer a tais consulentes “um lugar além da doença?” Estas e outras questões farão parte da discussão do Gestalt em Ato, deste mês.

É importante termos claro que não basta apenas acolher os consulentes que chegam ao consultório com diagnóstico de uma doença oncológica e que trazem demandas que envolvem risco de morte, mutilação (decorrentes de cirurgias), perda de capacidades fisiológicas básicas, mas também identificarmos que o consulente está enfrentando um quadro aflitivo.

Se considerarmos o início do tratamento, a fase em que se recebe o diagnóstico, podemos identificar um ajustamento aflitivo (ético-político), uma vez que o consulente lida com uma situação para a qual não possui dados. Não existe um fundo acessível para que possa encontrar formas possíveis para lidar com a nova situação. Para que o terapeuta, no entanto, possa trabalhar com essa demanda; em primeiro lugar, precisa ter claro qual é a sua forma pessoal de lidar com tais questões, pois, em um trabalho psicoterapêutico com consulentes em tratamento oncológico, essas perdas e ressignificações estarão presentes ao longo de todo o processo.

É, a partir da experiência no Projeto Gestalt-oncologia, desenvolvido pelos profissionais do Instituto Müller-Granzotto, e do referencial teórico sobre os ajustamentos na clínica gestáltica, que o Gestalt em Ato de outubro se propõe a discutir, e você é nosso convidado para conhecer esse olhar.