Ana
Carolina Seara
Maria Balbina Gappmayer
Em 2008, o diretor Fernando
Meirelles lançou o filme Ensaio sobre a
cegueira, baseado no livro de mesmo nome, do escritor português José
Saramago. Nessa obra, uma cidade inteira é acometida por uma epidemia de
cegueira com características muito peculiares, é uma cegueira na qual as
pessoas passam a enxergar tudo branco, e apenas uma pessoa não é afetada e mantém
a visão. O drama revela a luta
pela sobrevivência de um grupo de pessoas que, como a maioria dos demais, fica cego
e se vê reduzido a seres humanos tentando dar conta de suas necessidades
básicas e expondo seus instintos mais primitivos. Esse grupo em particular
mostra o resgate da humanidade perdida e nos faz pensar sobre a função do olhar
do semelhante como forma viver em sociedade e da responsabilidade daqueles que
podem ver. Essa obra é um bela metáfora sobre a visão,
ou a percepção das coisas, e nos faz questionar sobre o que estamos deixando
de ver, o resgate de uma lucidez num tempo em que tudo parece tão acessível e
explícito.
Neste sentido, no campo da
psicologia clínica, poderíamos levantar alguns questionamentos: o que poderia ser considerado cegueira do terapeuta? Onde o terapeuta se permite cegar? Qual seu ponto cego? Existiria alguma cegueira terapêutica? O terapeuta é seu próprio
instrumento de trabalho, é através de seu corpo que ele percebe o consulente e,
a partir de seus sentidos, que ele pode realizar um trabalho terapêutico. Não pretendemos tratar aqui da cegueira
enquanto falta da visão
propriamente dita, mas do sentido metafórico de não ver. E, para isso, nada
melhor do que partirmos do corpo e utilizar como representante da percepção o
sentido da visão. Afinal, no uso coloquial, atribuímos à visão a percepção
sobre as coisas.
Nosso objetivo, no Gestalt em Ato
de maio, é o de abrirmos um espaço para levantar questionamentos e desenvolver
uma maior percepção sobre nosso corpo e sobre o uso que fazemos dele enquanto
clínicos e também nas nossas relações cotidianas.
Participe conosco dessa discussão
e viagem pelos nossos sentidos no próximo Gestalt em Ato, dia 8 de maio de
2012, às 14h30 (novo horário)!